AS RAZÕES DO CHORO
Saudades tenho de mim…
de quando eu não era assim
tão estreito, raso, apagado.
A nervura da ruga,
a proeminência do osso,
qualquer traço novo no rosto…
tudo afunda mais e mais
e aos poucos a escuridão do poço
silencia o grito,
breca o sorriso!
Hoje, a flor do juízo
abre pétalas de choro.
(No banco da pracinha eu chorei, num dia distante,
porque queria ganhar um acordeon de brinquedo.
Papai, então, comprou-me a sanfoninha.
Depois, as notas sempre tristes do instrumento
não me deixaram ter gosto pela música.
Não era música, era o suor do meu pai
a escorrer dos meus olhos.
Não era pra ser tanto, e tão precioso,
o preço de um brinquedo. A música era muito cara…)
Numa medida rara,
desconhecida até,
aprendi a chorar feito um mané!
Essas rugas, esses traços caídos
são por ter vivido
mais do que era permitido
a um qualquer.
JOSÉ PIRES DE LIMA